Lembro que quando era criança tinha muitas bonecas, a cada data comemorativa ganhava uma nova e imediatamente descartava as antigas.
As vezes pegavas as usadas e matava um pouco a saudade, mas a nova era meu objeto de admiração, de desejo.
Acontece que um belo dia ganhei a boneca dos meus sonhos, a que sempre quis, que sempre sonhei. Brinquei com ela como se fosse a menina mais feliz do mundo, a mais completa, e senti que ela era feita para mim e é como se eu fosse feita para ela. Foram momentos inigualáveis, inenerráveis.
Mas acontece que de tanto brincar com a bonequinha acabei por descobrir que ela não era perfeita, que veio com um defeito de fabricação, pobre boneca, confesso que tentei continuando a brincar com ela, mas não sei, era como se não tivesse mais tanta graça, era como se perdesse o encanto, pois ELA NÃO ERA PERFEITA, mas segui tentando e acreditava mesmo que tentava de coração, como fui boba, não quis ver que só eu acreditava.
O problema é que não consegui mais dar todo amor e carinho que aquela bonequinha tinha me despertado no início, e aí parece que o defeito dela se tornou mais importante do que todas as qualidades, emoções e felicidades que ela havia trazido para minha vida. Então resolvi descartá la. Pois, para que perder meu tempo com uma boneca velha e defeituosa?! Meus pais continuavam a me dar tantas outras.
Joguei ela no fundo da caixa e comecei a brincar com uma um dia, com outra outro dia. Era muito bom ter muitas bonecas novas. Como me emocionava quando ganhava cada uma, brincava muito com cada no momento em que era presenteada, mas no fim de cada dia percebia que aquelas não eram a minha boneca, a boneca que eu sonhei, boneca que foi feita para ser a minha boneca.
Acontece que minha mãe resolveu dar minhas bonecas velhas para uma criança pobre do bairro da Marambaia, na periferia de Belém (desculpa Beta, Thi, Ton, Taty, uahuaha), e o pai desta criança era carpinteiro, assim como Jesus. E ele percebeu que o defeito daquela boneca era fácil de ser concertado, posto que bastava ela ter o amor verdadeiro da sua dona que ele desapareceria.
Infelizmente, a dona para quem foi feita a boneca, eu, não a quis mais. Mas o amor da filha do carpinteiro, era tão grande por ela, que acabou por se torna perfeita pra aquela menina pobre, sem grandes exigências na vida, mas que devido as dificuldades sempre encontradas apreendeu que nem tudo que é imperfeito é descartável e não pode trazer felicidade.
Aconteceu que aquela boneca defeituosa pelo amor se transformou no objeto de maior felicidade do mundo para a criança que acreditava no amor. Enquanto, eu, que sempre tive tudo na vida, depois de muito tempo, depois de ter brincado com as bonecas dos mais variados tipos e tecnologias, acabei por descobrir que o maior presente que ganhei na vida tinha sido justamente aquela bonequinha que de início era perfeita para os olhos, mas que depois descobriu que ela tinha defeitos, na verdade como todas bonecas, e que meu amor por ela não foi corajoso o suficiente para tentar concertá-la. Assim, perdendo esta boneca pela falta de coragem de lutar, de acreditar que apesar daquele defeito aquela era a boneca da minha vida, pois como todos sabemos não existem bonecas perfeitas, mas sim amores perfeitos, que são capazes de consertar qualquer defeito de boneca.
Hoje só posso dizer: QUE SAUDADES DA MINHA BONECA!
